16 dezembro 2017


O Natal Estava à Porta

O Natal estava à porta, inundado de sol
os cânticos estrelados em cada olhar
as luzes recortadas em divina alegria doirada
os corações abertos à felicidade das mãos dadas
como se timbra esta quadra ano após ano
quando decidiste num repente alagar de tristeza
o rio caudaloso das minhas lágrimas
partindo sem ao menos um ligeiro adeus
um silêncio mínimo que fosse a acordar a memória
das rolas dos campos de Serafão
um bater de pálpebras um sorriso ao menos
não, simplesmente gelaste, um universo final em redor
branco branco ausente inultrapassável
deixando-me apenas na alma o amargo da dor
que não consegue despegar-se de mim
uma saudade granítica, imorredoura
cada vez mais angulosa agreste penetrante

o meu coração deixa-te esta rosa vermelha
este bouquê adorado de estrelas que conservarás intacto
até ao nosso reencontro no firmamento da aurora
a mesa estará posta, mãe, na noite do meu coração
para que regresse feliz a consoada em família
como no tempo em que, criança, ansiava
a vinda do pai como a melhor prenda do Menino Jesus!



Artur Coimbra
(Texto publicado no blogue do autor)


1 comentário:

Odete Ferreira disse...

Emudecida, após a leitura deste belo e sentido poema, Artur Coimbra.