Há fantasmas pelo natal
De noite
enquanto
dormimos
há
fantasmas que nos visitam e revisitam
São essas as noites em que sabemos
que
o mundo lá fora não dorme tranquilamente
São as mesmas noites estas em que agora escrevemos
sentidos
de
coisas só para nós sentidas
noites
estranhas de anódinos silêncios
em
que dormem apenas aqueles que podem dormir
Noites em que uma certa luz teima em chamar
não
sei se para ver melhor os vultos as sombras os espectros
não
sei se para não ver melhor os três fantasmas que se aproximam
e
que não somos capazes de acarear devidamente
que
vêm não sei se de levante seguindo uma luz promissora para estenderem
a Mão
e terem
uma sopa por companhia onde escrever os sonhos perdidos
longe
das luzes das árvores centrais o seu lugar o ocidente
onde
virem a jusante ou outro lugar
De noite uma cortina
sempre
aberta e sombras nubentes desenhadas nela com que dormimos
nunca
se sabe se por detrás do pano algum fantasma
desses
que estendem a mão para mover uma dama uma torre um nimbo
o
natal passado jogado como se não tivesse existido jamais
uma
fogueira à volta da casa onde as sombras são o que fomos
ou
somos hoje o que as sombras puderam ter sido naquela fogueira falecida
Às duas ou às três da manhã o menino deseja
continuar a ser o mesmo menino
(ou
a todas as horas) quando os três natais se aproximam dele
procurando
o presépio que já não está estando em louçanas aporias
às
vinte e quatro horas da existência do dia vinte e quatro de consoada
estenderei
a mão para ti desfiando cada hora cada dia e dir-te-ei
Amigo
para
que também os fantasmas sejam parte de nós
e
assim possamos dormir
enquanto é dia
Norberto do Vale Cardoso
(Poema publicado em 2006, reescrito em
dezembro de 2017)
1 comentário:
Li e reli:
Um poema de sublime mensagem, do e de desassossego.
Que façamos todos um pouco para que a noite seja menos povoada de fantasmas.
Parabéns, Norberto do Vale Cardoso.
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