O Espírito de Natal
Há
quem se alegre com a aproximação do Natal, há quem fique deprimido. Costumo
pertencer ao primeiro grupo. Quando, porém, não tenho ocasião de ir passar o
Natal à pátria, momentos há em que a tristeza lança uma mancha de tinta negra sobre
o colorido da festa.
Há
uns anos, caí num poço melancólico, que me fez acreditar ser impossível
recuperar o espírito natalício. Desejei que o Natal passasse depressa. Depois
da Consoada, desejei adormecer tão fundo, que só acordasse no dia 26, já a pensar
no Ano Novo.
De
manhã, porém, a minha cadela Lucy começou a mostrar sinais de impaciência logo
às oito horas. Mas que maneira de iniciar o Dia de Natal, a amaldiçoar a bicha!
Lá me levantei e fui dar a volta com ela, ainda antes do pequeno-almoço.
Estavam
dez graus negativos, havia neve no chão... Mas eu procurava em vão o espírito
de Natal.
Cruzei-me
com um homem que conheço de vista, também a passear o seu cão. Em vez do
habitual «Guten Morgen» (bom dia), saiu-me: «Frohe Weihnachten» (Feliz Natal). O
homem abriu um grande sorriso e respondeu: «Danke, gleichfalls» (obrigada,
igualmente).
Senti-me
quente por dentro, como se tivesse bebido um café. Alguns metros mais à frente,
apercebi-me de que um ciclista se aproximava, por trás de mim. Há muitos ciclistas
na Alemanha, eu própria ando frequentemente de bicicleta. Mas, com aquele
frio... E o passeio apenas limpo de neve numa faixa estreita...
Pensei:
não me desvio, o passeio é para os peões, ele que mude para a rua. A rua,
porém, parecia muito escorregadia. Parei, cheguei a Lucy a mim e deixei espaço
para o ciclista passar. O homem abriu um grande sorriso, disse: «Muito
simpático da sua parte! Obrigado». Tive de sorrir também: «De nada».
Quando
cheguei a casa, o meu marido já tinha preparado o pequeno-almoço: o café
quentinho, o pão torrado e estaladiço, a manteiga... A sensação de conforto
tomava cada vez mais conta de mim, preenchendo o vazio...
Afinal,
não me tinha deixado, o espírito de Natal.
Cristina Torrão
Texto baseado numa
publicação no blogue “Andanças Medievais”:
1 comentário:
A prova de que o espírito de natal (também) é feito de vontade... Inspirador relato.
Parabéns, Cristina Torrão.
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