26 dezembro 2017


É Tempo de Natal
Hoje, quando estava em casa a ver televisão, vi a publicidade a um brinquedo para o Natal. Estamos a quase um mês do Natal... Isto fez-me reflectir sobre o significado que tem hoje o Natal e os valores que representa (e que representava no tempo da minha mocidade)… Hoje com o individualismo do mercado, a obsessão do consumo, a globalização da cultura (o mesmo é dizer a “americanização” ou como eu mais gosto de dizer a “macdonalização” da cultura), os valores alteraram-se para bem pior e para utilizar uma frase feita “a tradição já não é o que era”. Hoje nesta cultura do stress (a vida transformou-se num verdadeiro fast-food), não interessa o que se é, mas antes aquilo que se tem. Hoje diz-se: “Diz-me o que tens, dir-te-ei o que vales”. Não interessa saber como se conseguiu o dinheiro, interessa, isso sim, é saber se se tem ou não tem, como o conseguiu, não interessa... É nesta sociedade sem valores, ou melhor, com falsos valores que se educa a nossa juventude. Apetece dizer que, algo “vai podre no Reino da Dinamarca”. E depois dizemos que esta juventude é uma “geração rasca”, “rasca” é a sociedade que transmite estes “valores”... Até mesmo o significado da dádiva de presentes pelo Natal se alterou. Hoje dão-se presentes caros para qual “novo-rico” ostentar o seu poder económico e não pelo seu verdadeiro significado que é o prazer da partilha, no sentido mais nobre desta palavra e da dádiva.
Os verdadeiros valores do Natal são a Tolerância e a Fraternidade. É por isso que o Natal é lindo, é por isso que nos toca tão fundo. Não é por um “homem vestido de vermelho e de barbas brancas” distribuir presentes à entrada de um Centro Comercial (que tem origem, nos anos trinta, quando a Coca-Cola Company decidiu usar São Nicolau nas suas campanhas de publicidade de Inverno), é pelo sentido de fraternidade, pelo calor humano de, pelo menos uma vez no ano, nos sentirmos irmãos, de fazermos parte dessa grande família que é a HUMANIDADE.
São estes os verdadeiros valores do Natal, são estes os valores que devemos ensinar aos nossos filhos e aos nossos alunos. Só assim seremos verdadeiramente educadores.
Basta ver a televisão ou ler os jornais para nos apercebermos da violência e da desumanidade que reina no mundo. A violência e a desmoralização que vemos não são obra do acaso. Elas crescem “como cogumelos” no mundo podre que todos nós ajudamos a criar, com o nosso egoísmo, com a nossa cegueira, com a nossa passividade e com a nossa sofreguidão pelo dinheiro. 
Esqueceram-se os valores, hoje só se pensa no “conforto”, no carro novo que se quer comprar, no novo telemóvel, nas férias... Não se pensa na guerra, na fome que vai no mundo, na miséria que se vive, às vezes ao nosso lado, não se pensa nos que sofrem, nos velhos sem carinho e sem o conforto de uma família. No nosso egoísmo não se “atura” o pai e a mãe que nos criou, com tanto carinho, com tanto amor e, às vezes com tanto sacrifício... Não temos “tempo” para eles...
E os nossos filhos? Quando falamos com eles? Sabemos os problemas que têm? Quem são os seus “amigos”? Como vão os seus estudos? Damos-lhes dinheiro! Sim, mas o dinheiro às vezes é o que menos interessa... Quantos problemas se evitariam, se os pais dessem mais atenção aos seus filhos!...
São estes os verdadeiros valores do Natal: a Tolerância, a Partilha, o Diálogo, o Amor e a Fraternidade. Não nos iludamos, o Natal está dentro de nós. Devemos reflectir sobre isto e fazer uma saudável autocrítica. Os pensamentos devem fazer-nos voltar a casa... à nossa casa em que ainda meninos sonhávamos com um mundo novo em que não havia fome, nem miséria. Regressemos aos valores do Natal da nossa infância, à boa e saudável ruralidade, à festa da família, do amor ao próximo. Só assim poderemos fazer de cada dia um verdadeiro NATAL.

                                                                                António Pimenta de Castro
(Texto publicado nos jornais “O Vianense” de Viana do Castelo
e “O Guerra-Zoelae” de Macedo de Cavaleiros)

1 comentário:

Odete Ferreira disse...

Parabéns, António Pimenta de Castro, por esta reflexão que tem cabimento em qualquer altura e que, especialmente nesta época, pode ajudar a refrear o frenesim das luzes.
Subscrevo-a porque vem de encontro ao meu pensamento.