NATAL
Natal da minha infância
Onde estás que não te vejo?
Não te encontro, mas desejo!
Chaminé da telha vã, levantada
Por onde o Pai Natal deixava as coisas…
Lareira ampla onde a alegria circulava
E os toros apagados sobre a loisa
Clamavam a chamiça que alegrava.
À noite depois da ceia
As inquietações saíam de mansinho…
Com calor, acolhia-nos a lareira
O rapa, o par e pernão e o carinho.
Os pequeninos ao colo das avós e mães
Outros, entre as pernas dos pais e avôs
Escutávamos as histórias sem desdém
Saboreando as rabanadas e as filhós.
Quando o sono, enfim ameaçava!
Já a noite ia longa e o borralho
escasseava!
E porque era Natal, entre os avós, a
menina
E entre os pais, o mais novo, na cama se
deitavam…
E dormiam com(o) os anjos!...
Mas antes de adormecer
Os sapatos encarreiravam
Sem a qualquer ordem obedecer;
Na lareira, próximo das cinzas
Pró Pai Natal os poder ver, os colocavam
E a longa noite, de simples coisas os
encher.
E, vinha a noite… Noite, chegando e
caindo
Uma prece e o até amanhã acontecia…
Todos em coro, rezando e pedindo
Paz pró mundo … E em paz se adormecia!
Natal da minha infância
Por onde andas? Não te vislumbro!
Que mal te fiz? Te fizeram? Que
errância!
Foste embora? Partiste pró fim do mundo?
Dia seguinte, manhã cedo,
Despertina matinal, simplicidade e
inocência
Levava-nos ao sapatinho: a curiosidade e
a sonolência …
O contentamento com tão pouco que era
tanto
Transformavam a realidade em sonho,
entretanto!...
Eram o carinho e a ternura
Que enleavam tudo e todos,
Davam encantamento ao Natal
Às pessoas, à família e à vida.
E se calhar, até à morte!
Natal da minha memória, fugiste não sei pra onde!
Volta Jesus e refaz a História!!!
‘Quanto bonda!’
José Carlos
Teixeira,
In “Desabafos
Disfarçados de VOZ”, Chiado Editora, 2016.
1 comentário:
Sempre importante trazer para o hoje, a memória afetiva de um tempo que não voltará.
Parabéns, José Carlos Teixeira.
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