De facto, nestas terras, não existem grandes monumentos
de invejável beleza e de admirável grandeza, como existem noutras regiões,
nacionais ou estrangeiras. É como se não existissem factos históricos a
comemorar, como se a alma humana, por pequenez ou abandono, não sentisse essa
necessidade de deixar marcas aos vindouros. Tenho as minhas explicações,
corretas ou não, pouco interessa. Aquilo que posso afirmar, com clareza, é que
a alma do povo é grande, isso eu sei, apesar de nunca a ter medido, mas
conheço-a como a palma da minha mão, é de lá que venho. Estas coisas sabem-se,
sentem-se mas não são mensuráveis.
Eu sinto essa grandeza perante uma pequena ermida, uma
capela, uma grande pedra. Sinto a grandeza do tempo que passou por ela, sinto a
grandeza do esforço de quem a construiu, de quem a içou na roldana, o suor de
quem a moldou, de quem se encostou a ela. Gosto de pensar que nos caminhos
vivem as almas de quem os calcorreou milhentas vezes, e de olhar para as marcas
da erosão como as marcas dessas almas. Gosto de pensar que a pedra quadrada da
parede de uma pequena igreja adquiriu o sentir do pedreiro que a talhou. Gosto
de pensar que os locais e as coisas adquirem o espírito do tempo. Gosto de
olhar para elas e tentar captar esse mesmo espírito que acredito encerrarem.
Nesta minha ingenuidade, acabo por falar de uma capela
como se fosse a maior obra de arte, acabo por falar das coisas com uma paixão e
um sentimento que não correspondem às constatações objetivas. Gosto de falar delas
com a importância que tiveram, para quem as construiu, mas que em boa verdade
não passam de meras paredes erguidas, a quem o tempo geológico não perdoará.
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António Sá Gué
In: Quadros da Transmontaneidade
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