Academia de
Letras homenageou Barroso da Fonte
(Reproduzimos o texto do nosso sócio António Chaves)
A Academia de
Letras de Trás-os-Montes reuniu na sua sede, em Bragança, dia 23 de Março e,
após a sessão da Assembleia Geral, decorreu uma segunda sessão presidida pelo
Doutor Ernesto Rodrigues, ladeado pelo representante da Câmara, Vereador Engº
Hernâni Silva e pelo homenageado que, em 24 de Janeiro, completou 60 anos de
Jornalismo. O autor desta nota foi encarregado de falar do seu conterrâneo e
amigo desde que se conheceram no serviço militar obrigatório. Aí disse:
encontrei pela primeira vez o Barroso da Fonte na Estação de S. Bento, no
Porto, quando esperávamos o comboio da noite para seguirmos para Mafra, onde
íamos iniciar a vida militar. Tinha ele 24 anos de idade e eu 20. Nessa noite
estipulámos que a condição de Barrosão e transmontano se iria impor acima de
qualquer outro considerando, o que nem sempre se revelou fácil, pois vínhamos
de mundos muito diferentes, com referenciais de vida e de pensamento, por vezes
antagónicos. Tivemos muitas e vivas discussões, mas nunca perdemos a referência
maior da noção territorial de criação. Convivemos estreitamente, dentro e fora
do quartel ao longo dos sete meses de instrução militar, tempo estabelecido
para aquela incorporação de Janeiro de 1964. Nos intervalos dos exercícios de
instrução enquanto nós descansávamos um pouco, o homem de Codeçoso ia sentar-se
sozinho a rabiscar uma crónica ou a dedicar um poema a um palminho de cara com
quem cruzara o olhar, na tarde anterior. Cheguei a considerar excessiva e
incompreensível aquela ânsia de aproximação ao sexo oposto. Só muito depois
entendi essa perspectiva quando verifiquei melhor o que era viver fechado como
animal no curral, a sonhar com sorrisos e ternura feminina e saber que nem um
breve engano podia ter, como referia Camões. Pela mesma razão, já enquanto trabalhou
nos Pisões, na construção da Barragem, vinha sempre que podia com outro amigo à
paragem das camionetas para ver as moças que chegavam ou partiam e as que
continuavam viagem.
A actividade como
jornalista e poeta constitui para Barroso da Fonte um bálsamo refrescante de
vida, o ar que respira, em liberalidade só igualada pela prodigalidade que
confere sentido ao valor absoluto da amizade, à entrega ao próximo, à defesa do
mais frágil, do mais desprotegido. Disso não fala ele tanto, e faz muito bem. Só
quem o conhece de perto adquire a preciosa noção da ternura e do desvelo que
comporta cada seu gesto. Creio que sempre cultivou a arte como uma forma de
transcendência, de ultrapassagem das pesadas agruras da existência, mesmo sem
ter, por vezes, plena consciência disso. O nosso trajecto de amizade conta já
perto de meio século, apoiado num apreço sem desfalecimento, numa
disponibilidade total quando requerida, numa convivência sã e fraterna.
Estivemos sempre presentes nos momentos importantes da vida de cada um. Quando
há poucos anos me pediram um breve testemunho sobre Barroso da Fonte, escrevi o
seguinte:
O livro agora
distribuído, da autoria do Coronel Dias Vieira e de João Pedro Miranda
constitui um trabalho meritório e bem concebido que merece ser lido, conhecido
e apreciado. Fornece uma panorâmica mais alargada e completa do que foi a vida
de Barroso da Fonte, como homem, historiador e jornalista.
Quero por fim
expressar à Academia de Letras de Trás-os-Montes e aos seus principais mentores
o meu obrigado pelo convite para participar neste gesto de elevado significado,
revelador de que a Academia não é indiferente aos momentos importantes da vida
dos seus associados, demonstração de que os transmontanos e em particular os
seus homens de letras continuam sábios guardiões do património de gratidão
legado pelos seus maiores, mantendo aceso o farol dessa identidade preciosa que
resiste contra ventos e marés, perante a voracidade hegemónica e aniquiladora
da diversidade do que é específico, autêntico e de direito próprio.
O Coronel Dias
Vieira, co-autor do livro ali apresentado também usou da palavra para enaltecer
as qualidades do seu conterrâneo e amigo e também para explicar as pesquisas
que fez através da colecção do Semanário A Voz de Trás-os-Montes para escrever
os primeiros anos de jornalismo deste que volvidos 60 anos ainda continua a
colaborar no Jornal-Escola.
Por António Carneiro Chaves
Fonte: http://nordestecomcarinho.blogspot.pt/2013/04/academia-de-letras-homenageou-barroso.html
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