Foi antanho, é passado,
Mas a memória devolve tudo:
Uma mulher, a roca, o linho fiado,
Mas não se fiavam as barbas ao Entrudo!
Mão ágil, fósforo aceso, a estopa queimada.
Uma pedra que sai da mão,
E a cabeça rachada, ao carpinteiro João.
Uma mulher, as estopas a arder,
A ousadia, o drama, a agressão.
Porque os homens da aldeia faziam tudo,
Para que não se fiassem as barbas ao Entrudo,
Para manter viva a tradição.
Enquanto na cozinha, à luz da candeia,
Quatro gerações junto à lareira,
Festejavam o carnaval, sem máscaras,
Essas coisas do demónio tentador.
Porque só eram permitidas brincadeiras
De deitar farinha na cabeça,
E contar “estórias”, não muito brejeiras…
E toda aquela boa gente,
De cara descoberta, alegre e contente,
Passava a noite de carnaval,
Com uma estridente gargalhada,
Até ao clarear da madrugada...
Era assim o Carnaval na minha infância,
Em casa dos meus avós maternos,
A tão longa distância…
Onde não eram conhecidos corsos carnavalescos,
Nem desfiles de samba, com foliões pitorescos…
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