29 abril 2011

Tertúlia Literária

                                               TERTÚLIA LITERÁRIA

Decorreu como planeado a nossa primeira Tertúlia Literária: organização conjunta da ALTM e da CMB. As meias finais da Taça da Europa e uma outra actividade simultânea relacionada com a Comemoração da República fez com que os participantes fossem em reduzido número (cerca de uma vintena), mas nem por isso o fervor poético e a condição transmontana esmoreceram. Discussão vivíssima sobre poemas e poetas da nossa terra. Torga, AM Pires Cabral, António Cabral suscitaram interessantíssimos comentários, opiniões vincadas, radicais tomadas de posição, polémicas acaloradas.
As senhoras presentes, muito activas e informadas, marcaram o último ponto ao proporem para tema da próxima Tertúlia “Escritoras Transmontanas”.
Vão pois lendo as nossas maiores, e nem só, e compareçam na próxima iniciativa.
Já agora, aqui vai um de dois poemas de Fernando de Castro Branco, aí lidos, que com o romancista Manuel Cardoso e a cronista Hercília Agarez, moderou a Sessão.


OS RATOS

Minuciosamente avançam. De casa em casa, de rua
em rua, de leira em leira. O seu dia é uma noite suspeita
por onde passam: foragidos, roendo o pulmão da terra,
as raízes das vinhas, as espigas dos trigos, os caules
das macieiras. Deixaram o nome a bom recato, no esgoto
de cidades sem rosto. Vieram expressamente
para deixar a peste nas ruas, nas praças, nas casas,
nas hortas, nas mesas, nos olhos.

Quando partirem, uma faca atravessará
a luz, arrasará os muros antigos, contaminará
os campos. Os ratos. Resistem ao esforço meritório
de todos os venenos. Invadem o ventre da terra célula
a célula, com a persistência de uma neoplasia. Partirão
após o trabalho feito, os nacos merecidos.
Deixarão somente a noite atrás de si.
Vazia. Roída. Contaminada.

Fernando de Castro Branco

Estrelas Mínimas, Labirinto, 2008

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