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Pires Cabral. |
Esta crónica nasceu em Bragança, no auditório Adriano Moreira. Deveria
ter sido enviada para publicação na semana passada. Tal não aconteceu porque,
propositadamente, quis resistir à tentação de cair no facilistismo e no coro de
lamúrias que, infelizmente, os tempos que correm, justamente, patrocinam. Quis
refletir durante uma semana e, sobretudo, ir ao cinema ver o “The Monuments Men
– Os Caçadores de Tesouros”. Ainda bem que o fiz. Não, não posso concordar nem
de perto nem de longe, que qualquer obra de arte possa justificar a vida de um
ser humano. Desconte-se isso e a sendo certo que, segundo o próprio Frank
Stokes “com tanta gente a morrer quem quer saber de arte?” não deixa de ser absolutamente verdadeiro que
“se pode arrasar uma geração inteira, reduzir as suas casas a cinzas, mas ainda
assim elas regressarão. Mas destruindo a sua história destroem-se as suas
realizações e é como se nunca tivessem existido.”
Por mais que me esforce, não consigo escapar ao lugar comum do momento:
o nordeste está em processo de destruição! Cada vez há menos gente. Cada vez há
menos serviços. Cada vez há menos recursos. A austeridade sendo igual ao resto
do país, é mais dura aqui! E quando há mais desemprego, mais pobreza, mais
dificuldades, mais necessidades básicas, quem quer saber de arte, de
literatura?
Pois é quando esta enorme desgraceira nos cai em cima, quando quem
supostamente nos devia acudir nos afunda extinguindo serviços e ameaçando
acabar com os poucos que vão sobrando, quando os ramos secam e pedem poda, que
é necessário tratar das raízes e garantir que ao menos essas continuarão
agarradas ao solo materno que nos garantirá a permanência e a existência.
Em Bragança, em Lisboa, no Porto, em Paris, Nova Iorque, Singapura,
Camberra ou Sidnei, todos os que se identificarem com o torrão materno, todos
os que aqui se revêm e reconhecem, continuarão a ser transmontanos, continuarão
a ser nordestinos. E o Nordeste existirá, mesmo que espalhado e repartido pela
geografia da nossa diáspora. Porque a memória nos lembra quem somos e de onde
vimos. E é essa a razão pela qual a preservação dessa memória não é só um
dever, mas um imperativo. De sempre e muito mais de agora!
A Academia de Letras de Trás-os-Montes está a levar a cabo uma obra
notável. Fruto da generosidade e empenho do moncorvense Leonel de Brito vai
produzir onze DVD’s com as memórias de outros tantos vultos da literatura
transmontana a saber: Bento Gonçalves da Cruz, João Barroso da
Fonte, António Lourenço Fontes, António Manuel Pires Cabral, António Passos
Coelho, Hirondino da Paixão Fernandes, António Modesto Navarro, Júlia Guarda
Ribeiro, Borges Coelho,
Adriano Moreira e Aniceto Afonso, sendo que os depoimentos dos oito primeiros estão
já executados. É a memória cultural de Trás-os-Montes! Espera a Academia que as
Câmaras Municipais, sobretudo aquelas da naturalidade dos entrevistados,
adquiram alguns exemplares contribuindo assim para o esforço que tal empresa
requer.
No que me toca tenho de
reafirmar o que afirmei na última Assembleia Geral da Academia: Não é sequer
uma questão de opção. É uma obrigação! Enquanto instituições representativas
das populações, as autarquias transmontanas (todas e não só algumas!) não podem
fugir a este desígnio inalienável: adquirir vários exemplares destes DVD’s para
as respetivas Bibliotecas Municipais, Arquivo das Escolas e para a própria
Câmara, obviamente, para oferecer e promover a nossa terra. Claro que as
autarquias de onde são alguns dos entrevistados deverão fazer sessões especiais
de apresentação e lançamento das respetivas obras. Mas isso já não é nada que
se lhe deva pedir. Pelo contrário, esse é o seu privilégio que os mesmos e a
Academia lhes proporcionam e portanto nada mais lhes resta fazer que colaborar
e patrocinar todos os eventos programados.
Nota final: para que não fiquem dúvidas nem
se julgue que há valores desmesurados de aquisição e/ou subsídios é preciso
deixar muito claro que o que a Academia de Letras espera receber na totalidade,
se dividido pelas Câmaras Transmontanas o que toca a qualquer uma delas é pouco
mais que uma centena de euros! Esperamos que a contribuição autárquica seja
substancialmente superior!
1 comentário:
Que a voz comum da nossa existência se levante se grite bem alto, "nós também somo gente"
Raul Coutinho
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