13 março 2014

A Mulher que (con)Venceu o Leitor, Crónica de José Mário Leite

Viva! De novo. Parabéns, Teresa Martins Marques!
A Mulher que (con)Venceu o Leitor

Crónica de José Mário Leite
(Director Adjunto do Instituto Gulbenkian de Ciência)
in Jornal «Nordeste», em 25 de Fevereiro de 2014.

Teresa Martins Marques escreveu e publicou o romance “A Mulher que Venceu Don Juan”. Do romance em si, da sua qualidade, elegância e valor literário, outros falaram e irão falar, muito mais qualificados que eu para o fazerem. Poderia, ao que me toca, manifestar a forma agradável com que o li, como apreciei o drama, o suspense, a história, não esquecendo a geografia já que parte do enredo se desenrola em Trás-os-Montes (Vila Real e, sobretudo, na minha freguesia natal, Adeganha, no concelho Torre de Moncorvo).
Do tema em si, tão atual e tão pertinente (a violência doméstica sobre as mulheres), igualmente espero que os especialistas realcem a importância da obra, não só pela denúncia realista e crua como pelo apelo ao despertar das consciências para tão candente problema ainda dramaticamente presente nos tempos correntes.
O que me faz falar deste romance é sobretudo a forma como foi escrito e, sobretudo, como essa forma o tornou atual e lhe conferiu, sem mais, um dos principais objetivos de qualquer romance, conto, novela, poema ou simples crónica: atrair e chegar aos leitores!

As novas tecnologias vieram revolucionar a forma e o modo como olhamos, vemos, percebemos e nos relacionamos com vários temas, funções, ações e atividades tradicionais. Desde a publicidade, a correspondência, a arte, o relacionamento social, o marketing, a atividade comercial, ao lado de uma infindável lista. São aliás frequentes as “queixas” sobre os “malefícios” que a televisão, no seu tempo e a internet na atualidade trouxeram às atividades tradicionais. O afastamento dos espetadores das salas de teatro e do cinema, o alheamento das crianças das bricadeiras tradicionais de rua e ar livre, o decréscimo da escrita em papel, a diminuição das visitas aos museus e galerias de exposição e igualmente a “natural” diminuição dos leitores de livros. É certo que algumas respostas foram dadas. Os museus passaram a ser interativos, o cinema trouxe a terceira dimensão para salas múltiplas e polivalentes, inventaram-se novos tipos de jogos na natureza com as tecnologias atuais de GPS, eletrónica e realidade virtual e alguns autores passaram a fazer acompanhar as suas obras com CD’s, DVD’s e outros artefatos tecnológicos.

Afinal, no que toca à literatura, Teresa Marques descobriu um verdadeiro ovo de Colombo mostrando que há soluções mais simples e mais eficazes. Tal como no Judo, a melhor forma de vencer um adversário é a habilidade de aproveitar a força dele e o empenho que coloca no seu ataque, para os derrubar redirecionando essa mesma força em nosso proveito.
Se a internet, genericamente e o facebook, em particular, concorrem com os produtores de literatura, se as conversas em tempo real e em chats “esvasiam” a trama e o mistério dos romances, se as viagens virtuais trazem o realismo para os viajantes virtuais em desfavor dos escritores e descritores de paisagens e ambientes... então use-se a internet e o facebook, pessoas reais e incentivem-se os leitores a descreverem e municiarem o autor de paisagens, ambientes e descrições realistas e com as vivências que nenhum visitante, por mais experimentado, algumas vez poderá, sozinho ou com pequena ajuda adquirir.
Ora bem, se a autora assim (e muito bem) o pensou, melhor o fez. O seu livro foi sendo escrito no facebook, acompanhado de perto e atentamente por uma plêiade de leitores interessados e intervenientes. O enredo tem de ir ao Algarve? Sejam então os leitores de Tavira os olhos, os ouvidos e todos os outros sentidos da Teresa que trarão para o livro as descrições sentidas e pormenorizadas das deambulações pela Veneza algarvia. É preciso ir a Trás-os-Montes. A Vila Real, a Moncorvo? Serão os transmontanos a conduzir essa viagem.
Mas não só. É sabido que muitos autores têm largas conversas e mantêm aconselhamento técnico com os especialistas das matérias que não dominam. Teresa Martins foi mais longe! Se a personagem que inventou vai ter de se relacionar com um professor de Literatura, com um agente da polícia ou com uma dirigente da APAV, então porque não direcioná-lo diretamente com as pessoas reais que Teresa conhece e chamá-los para o enredo diretamente “obrigando-os” a responder aos desafios reais que a ficção lhes coloca?
O resultado foi o interesse imediato que a obra despertou, pois os leitores já estão conquistados como bem o demonstrou a sala cheia da Livraria Ferin, onde foi apresentado, em que muitos deles eram leitores/autores/atores.

Fonte: https://www.facebook.com/teresa.martinsmarques?fref=ts

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