31 março 2015

Lendo Sá Gué

Para ti não faço versos,
Ares da minha serra
Lendo Sá Gué
Quem percorre a primavera através de um ramo de amendoeira florida sabe que a vida é frágil e conclui que essa fragilidade está em tudo o que desponta e se mostra. Ainda assim é conveniente tratar das coisas para que elas nos pareçam mais firmes porque mais conformes com o nosso destino ou pelo menos com um modo de estar que assenta em boa parte numa herança cultural que, assimilada lentamente, nos faz como somos, nos determina a essência. Educação, sim, mas devagar. Tudo volta ao mesmo quando somos confrontados com paisagens interiores que nos interpelam e de certa forma constituem um exterior, já que publicadas, vindas a lume na cidade. A terra e o seu apelo nascem todos os dias aos pés de quem foi criado em ambiente de aldeia e sabe que tem reserva natural nesses poisos ainda que deles fuja, ou melhor, veja os seus afastarem-se sabe-se lá porquê e ao certo em nome de quê. Voltar? Sim, mas como, se até a pedra tende a volver tranquibérnia, a par da velha e ainda sã oliveira tanta vez deslocada do seu lugar a fim de aí progredir o que é novo e assumindo outras qualidades?
Fechava-se em casa, evitava sair para o campo, pois era como que o matassem ver o moitedo da altura do plantio – antes preferia ver o diabo arrastar uma alma para o inferno. Tudo lhe passava pela cabeça. Tornava-se-lhe insuportável saber que os seus de nada queriam saber da terra. Se pudesse, voltaria atrás, gastaria tudo na taberna, e pronto, acabavam-se os problemas.
Assumida a linguagem composta de boas maneiras que se vão formando não sem que seja preciso persistência e sem fazer de nós e em definitivo sujeitos agarrados pelo jeito um tanto ultrapassado do idealista e sequaz convicto de ideologias canhestras, abertos a pontos interessantes ou que resultem de um peneirar a que a sociologia no seu geral não é estranha, podemos ter chegado a ponto de admitir a vinda de mensageiros que traziam informes de outros povos, que semelhavam Homero, a catalogar naus: os de Fornos diziam-se firmes como fragas, armados de fustes e hastes, homiziados em palheiros, e mantendo piquetes de atalaia noite e dia; os do Lagoaçal cavaram fossos, levantaram barricadas e, entrincheirados e de escopetas assestadas, estavam preparados para o que desse e viesse; os de Rós já contavam cinquenta peltastas de prol que, armados de chuços e lazarinas, acaudilhados por um sargento de infantaria reformado, prometiam antes quebrar que torcer; os do Souto, homiziados em valhacoutos de castanheiros, armados de estadulhos e virotes, dali não arredavam pé, sem apitar o comboio, nem que caísse o Carmo e a Trindade; os de Mós, de esculcas avançadas a espiar movimentos do inimigo, e de manganelas e trabucos assestados, eram capazes de atirar pedradas a mais de trezentas braças. Diziam-se a vanguarda daquela milícia popular e formidolosa.
De sossego a aflição, aflição a sossego, contemplando, de certo modo e antes que seja tudo bem diferente, amavios de bezerra parida, que escoucinha, escoucinha com medo de perder a cria, uma multiplicidade de hipóteses se nos apresenta, qual formigueiro multicolor como as penas de gaio, tornando-nos irrequietos como levandiscas, saltitantes como cabritos e ridentes como gralha, ainda que tenhamos percorrido bastas vezes um par de escadas curvadas que subiam ao primeiro piso como se fossem as hastes de um bigode decaído.
O para muitos incrível tempo do desinço dos meloais e dos melanciais e de outros mabiscos de sazão era compatível com o sair da procissão em que o Santo António vai à frente, depois o Santo Estêvão. Vistas assim as coisas, de modo alargado, ainda que balizadas por certa estreiteza, que mais dará, dar-lhe no toutiço ou no toutiço lhe dar? Em boa verdade, em terreiro aberto e barulhento quanto mais não seja devido à acção de uma senhora banda, não é fácil a concentração no principal, fazendo suspeitar se aquelas cândidas e sacras figuras rezavam orações ou ciciavam censuras. Certamente que o demo não andava por ali a atacar a figura da frente, a coalhar-se-lhe na ideia, atazanar-lhe a alma e tirar-lhe o juízo, não querendo semelhar fruta fendida, cujo paladar se vai deteriorando à medida que a eiva vai alastrando e a vai apodrecendo. Num contexto assim e um pouco lá para o meio se não mesmo bem na rectaguarda, a linha dos cinco clarinetes dir-se-ia uma galinha e respetivos pintainhos.
Houve tempos em que as fúrias do Áfrico se espelhavam desde o chão dando corpo a fantasmas que pareciam colonizar a sua alma, retirando corpo ao castanheiro de longas torcidas ao dependuro como se uma gaivota que tentava pousar no tejadilho assim improvisado se arvorasse a truanices de serão, qual guarda-freio que assistisse à composição a enveredar por uma linha colateral e marginal sem ter a certeza do que estava a fazer.
Chulipa na massa do calabre é que não deve ser, nem com o pé, até por que a passagem de nível com guarda, que ia atravessar, estava cortada pela manifestação e aí nem pé nem mão, enquanto algumas carruagens deambulavam por uma linha religiosa, talvez cega, talvez perdida, todos não pintainhos, todos muito quentinhos em redor da fornalha do comboio protector. Dão-se nomes, mas que importa? Aliás o nome geral é um nome em si, o senhor Sicrano, fundamentalmente renitente quando se põe a hipótese de atravessar as carruagens, subir à máquina, sim, ai daquele que não cumprisse os deveres para com o Comboio.
No mais ermo dos locais à superfície da terra não faltam formas de vida.
Onde se pensa que não há movimento, afinal tudo mexe.
Tira partido do veneno que o envolve.
Que nenhum livro fique por escrever. Sim, claro. Muitos impressionam pelo rigor, pela singeleza e todavia passam sem deixarem grandes marcas. Basta pensar em contra-ciclos que alberguem, paradoxalmente, o ramal do facilitismo e, por outro lado ou talvez não, o Novo-Rico da Silva.
Finalmente Karl Marx! Finalmente pão para todos!
É caso para escrever: “Abaixo a superabundância!”
Porque em tais ambientes o importante é camuflar a realidade. Fazer de conta, como as crianças.
Tudo isto se dá sem recurso visível a um grande mestre-de-cerimónias do Grande Circo Ocidental (…), sem palhaços, sem a ingenuidade das crianças, sem malabaristas nem trapezistas que arriscassem a vida, sem crenças num outro mundo. Só a jaula do homo pouco sapiens, encurralado e dominado por ele próprio, ocupava a pista. Ocupava e ocupa. Em boa parte, o conhecimento, ou a falta dele, tornou-se perigoso, será a conclusão deste ponto.
Ninguém é livre se estiver preso à obediência a um professor, a um regime, a uma religião.
Estava aquela acácia, mesmo no meio do caminho, para ser impossível passar sem ser vista.
Não assestemos, por nossa parte, a crítica, porquanto não é isso que o autor faz, antes sugere uma escola que diríamos nova se o conceito não fosse já ele mesmo velho. Nesta escola os valores que contam são imateriais: das alegorias, dos arquétipos, da simbologia, da história… A simbologia?, perguntarão alguns. Sim, os símbolos, já esquecidos, que nos guiaram no início do caminho, eles são como rochas que afloram nos montes, eles trazem à superfície, ao consciente, os arquétipos comuns, eles dão-nos a noção do caminho feito e a fazer, do ideal a perseguir (…), não haverá condicionamentos, gurus ou pregadores. (…). O telhado deste caminho-escola é a sociedade.
Escuta o coração, não percas a faculdade de pensar.
Carimbar a caderneta é também um sinal de descanso.
Ao serão fazíamos defumadouros de palha centeia para combater as frieiras e ainda sem sabermos que milhares de peregrinos afectados pelo “Fogo de Santo Antão”, uma enfermidade causada pela ingestão de um fungo, o ergot, que cresce no centeio e provoca uma espécie de gangrena nas extremidades do corpo e que essa palha, que por certo também conheceu Cristo, era susceptível de albergar uma das variantes do Diabo. Não façamos aqui a ponte, mantenhamos antes as margens cada uma no seu sítio, ainda que as pontes sejam a centralidade de todo o caminho. (…). As pontes são assim, surgem-nos quando menos esperamos, surgem pelo trabalho, pelo silêncio, pela descida em nós mesmos. É no silêncio que as ideias nascem, amadurecem e ganham forma. É no silêncio que se talham pedras e se erguem catedrais.
Trabalho, tripalium, lembra um inquirir. Façam um pequeno esforço mental, imaginem o homem sem trabalho, talvez nos tempos que correm não seja difícil, mas coloquem as coisas noutra dimensão.
Para que o trabalho liberte é preciso gostar do que se faz, o que não inibe necessariamente a presença de um transformador de consciências, um torniquete benigno que não seja estranho ao efeito borboleta. Porém, as notícias importantes devem ser captadas no vento. Sim! É ele que nos dá o verdadeiro sentido do caminho. Nunca procurem esse sentido no bulício do dia.
O caminho descobre-se dentro de nós, quer se faça de bicicleta, a pé ou a cavalo. Seja ele qual for, nenhum caminho é iluminado na totalidade. A fórmula da sapiência é estar sempre em movimento.
Se na frescura das primeiras águas do outono, inçavam sanchas, a vitela dos pinhais, disponíveis para um viajante de floresta não solitário (ainda que em muitos pontos só), absorvendo o Tu, que verdadeiramente nasces todos os dias, lá para os lados da Serra do Reboredo, que ficava à sua mão esquerda, vista dali mais parecia um simples monte. Prolongava-se longitudinalmente ao olhar e acabava por não dar a noção do longo e robusto torso que possuía. Mais parecia a imagem do Cabeço da Mua que ficava do outro lado e semelhava ser o seu reflexo. Não sei se era o cabeço a querer agigantar-se se a serra a querer amesquinhar-se.
Há muitas formas de escravidão. Até escravo de si próprio se pode ser.
Foi aquele ladrão… não fui eu, foi ele, só pode ter sido ele.
A voz que assim fala tem atributos próprios e elegíveis para o rol dos autores, já naquela época, admitindo-se que talvez se possa dizer que ainda não conhecia a existência de mundos sobrepostos. Ligados uns aos outros por elementos racionalmente incompreensíveis e uma vez que, frequentemente, o debrum se apresentava todo ele plasmado no gradeado do castelo, figurando gente que ali perto, por sua vez, esperava a audiência de dissensão e de julgamento que em boa verdade não o é em face da lhaneza das perguntas.
Que profissões conhecia? Pastor e lavrador. Só conhecia duas, embora com variantes.
Nas vagas dos montes me enlevo/ Nas fragas vejo justiça/ No pó dos caminhos me perco/ nos homens encontro cobiça (…)
Ó ladeiras, ó vales que daqui abarco/ Ó ribeiras onde me acalmo./ Adeus! Nas costas do vento embarco.
A tradição que persiste encarna num João Caramês… cabeça descaída… permanente mudez… semblante… certa satisfação que ainda assim e por uma razão maior se afasta ou distingue da chusma de labrostes que cobria o terreiro e que hoje já não cobre mas pelas más razões, sim, que o estômago pedia trabalho e houve que abalar para outras bandas.

O vento, em rajadas fortes, fustigava ferozmente todos, sem exceção nem preconceitos, sem distinção de classes nem religião
Todos os tilintares de espada, vindos do fundo do seu ser, dir-se-ia que do ser da própria espada, que o autor deixa sempre o caminho aberto para este tipo de interpretação. Seres que estão em tudo o que nos cerca e não nos cerca, formando páginas, o ábaco das suas existências.
Já era noite quando entraram na cidade. Os candeeiros de gás já tinham sido acesos.
Era um corrupio de gente esfomeada para agarrar um codorno de pão empedernido ou uma escudela de caldo que mais parecia vianda para porcos
Embutido num recanto da parede ficava o balde das necessidades fisiológicas.
É a guerra. A prisão. A ânsia de libertação. Estamos já muito para além da liberdade. Ou esperando, sem pressas, esse momento redentor.
Sinto tanto frio, a escuridão é tão solitária, libertem-me. Deixem-me regressar às minhas colinas tempestuosas. Deixem-me lavar a alma nas águas límpidas dos ribeiros. Deixem-me refrescar o fogo da minha existência à sombra dos choupos. Libertem-me! Matem-me!
Não deixa de ser curiosos que haja como que uma premonição de interesse geral: também ele, preso n.º 44 (editado em abril de 2013). Claro que não há ninguém que não pense tolices e tenha tendência a reformular o mapa da cidade desconhecida/ frágil madrugada de mim.
Incubus
Succubus
O velho castanheiro não lhe trazia nenhuma proteção.
Sempre se precisará de ajuda, quanto mais não seja da medicina, ainda que por vezes nos queira aliviar, nunca saberemos bem e completamente o quê, a partir de um tom cruel e caridoso que ficará sempre reverberando nas mentes daqueles desafortunados, vítimas, a arder em febre, em que habitavam ogres gigantes, viscosas serpentes que não havia meio de dispersarem a ponto de se poderem considerar ausentes perante um teatro bem mobilado, aparentemente, por artefactos de cirurgia, a semelhar uma oficina de carpintaria, com nomes e principiando em cabos que davam bem a dimensão da dor e do sofrimento.
Já ninguém o reconhecia pelo próprio nome, desde esse tempo passou a ser alcunhado (…). Ele não se importava, quando ouvia esse apodo assomava-lhe um sorriso aos lábios e desaparecia na esquina do edifício da Cruz Vermelha, onde agora recuperava.
Viver nesse mundo, por momentos, pareceu-lhe ser a terra do arco-íris, a terra da felicidade.
Sonhar (é) procurar a substância do ser.
Segue pela Avenida dos Despreocupados, a Estrada dos Crentes, mas não desenterres as frustrações, as incompreensões de ti e dos outros, os sonhos impossíveis, não exumes os cacos frios do passado.
Esperou encontrar uma gota de água naquele mundo que lhe parecia seco mas coerente. Uma gota de orvalho que fosse.
O autor ergue-se a partir de um peso que carrega, pode ser lã, pode ser chumbo, considerando volume equiparável.
Sinto que não tenho/ nada para dizer…
Lá, onde a razão não impera. Lá, onde o desgaste físico dá lugar à consciência da inconsciência. Lá, onde o desgaste psicológico dá lugar à loucura saborosa. Lá, onde os sonhos são nuvens, que se tocam e derrubam paredes.
Creio que posso afirmar que desconheço o ócio, até mesmo nos momentos de recolhimento.
Falemos por ele e através dele, sem ofensa para ninguém, nem para a turbamulta ou o que lhe possamos chamar. Diga-se que fugiu da terra natal para ficar em linha, mas nunca ficou. Nunca encontrou esse alinhamento. Nunca o encontrou porque o único alinhamento que encontrava era o alinhamento de humanos em torno de chefes sem ideias, sem conceitos sustentáveis. É grave. Gravidade essa que nos leva ao nosso abismo, como se fosse uma atracção perigosa, mas que se ambiciona conhecer e da qual não se consegue sair.
Às vezes procurava os nós, os atilhos daquela embalagem, e apenas encontrava resquícios de o grande Nó Górdio que o Tempo atou, que nenhuma espada e nenhum Alexandre consegue cortar.
Provido do saco das palavras que levava a tiracolo e onde, de vez em quando, metia a mão para as libertar, sair (sem querer?) do imenso túnel de palavras a fim de alcançar (abraçar?) as pessoas, conhecê-las, saltar a aporia, resolver a equação nem que tenha de pedir ajuda.
As pessoas que não conheço são sempre simpáticas comigo. (…) Aliás, todos são simpáticos, conhecidos e não conhecidos, mas não me ouvem e, depois, ainda para complicar mais, tudo o que dizem não me interessa.
As areias do tempo são finas – respondeu ele, virando-lhe as costas
Estava a apontar-lhe a Rua do Torno. Aquela que tudo molda à sua imagem e semelhança.
Riu-se quando a viu. Nem queria acreditar. A noite do outro dia.
A realidade não é tangível.
Caminhou cinquenta anos apenas numa noite
A odisseia continua pela caverna subterrânea, por veredas
por precipícios
por escuridões
por tempestades
De mãos e pés nus
Como quem segue a linha branca que delimita a estrada em dia de nevoeiro
Havia uma estrada. Há um caminho. O tempo era cada vez mais lento na estrada. Paradoxalmente? Sim. No centro do vórtice foi-se desenhando uma figura mítica, sem pai nem mãe.
A escrita deste autor surpreende-nos no seu todo. Muitos dirão que está profundamente marcada pelas vivências de um interior a que ninguém liga e que, por outro lado, já muitos escavaram, escavaram sem irem além de propostas no alto balizadas por um Aquilino Ribeiro (que mandou fazer umas botas novas para melhor fugir da aldeia por causa da perseguição que a cidade de aldeões a dada altura lhe movera) ou por um Miguel Torga (que sempre se quis cobrir de manto telúrico afinal tão frágil e condizente com a sua condição de poeta). E todavia não é bem assim, porquanto cada um, se quer ser além, abarcar em si um universo sem o pretender transaccionar (no que ao essencial diz respeito) faz de si um ponto de partida e, sem o saber ou querer saber, um ponto de chegada.
Partir para outra etapa. Chegar-se para o mesmo campo desenhado pelas estações do ano, sim, mas principalmente pelo dia e pela noite que em nós aportam. Um campo aberto. Um campo fechado. Para uns e para outros e outras que o possam ou queiram atingir, sem o ferir, ferindo-se, porventura, suturando, dando uma volta sem capa e muito menos de cara tapada. Está vento, é desagradável? Pois bem, cubramo-nos. Trata-se de movimentar o que estava por de mais parado.


CARLOS SAMBADE

Relatório e contas de 2014

Relatório e contas de 2014

Receitas
Saldo do ano anterior ------------------------------------------------------------------- € 1 185,37
Quotas e joias de inscrição ------------------------------------------------------------- € 560,00
Subsídios para a produção dos documentários
                               Câmara Municipal de Bragança --------------------------------- € 350,00
                               Câmara Municipal de Montalegre ---------------------------- € 1 050,00
                               Direção Regional da Cultura do Norte ----------------------- € 1 000,00
                                Câmara Municipal de Vila Real --------------------------------  € 200,00
Outras ------------------------------------------------------------------------------------   € 70,00

Total ------------ € 4 414,37                                                                                               


Despesas
Realização e produção dos documentários de autores transmontanos - ---€ 1 623,64
Correio ----------------------------------------------------------------------------------------- € 58,68
Livro de recibos ------------------------------------------------------------------------------ € 30,75
Deslocações ---------------------------------------------------------------------------------- € 68,43
Cartão de Pessoa Coletiva --------------------------------------------------------------- € 14,00
Requisição de livro de cheques --------------------------------------------------------- € 8,05

                                                                                                              Total ------------ € 1 803,55


Bragança, 25 de Janeiro de 2015

                Pela Direção:

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Visto e aprovado.
O Conselho Fiscal:

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES Ano de 2014

RELATÓRIO DE ATIVIDADES
Ano de 2014

            Dando seguimento ao Plano de Atividades aprovado para o ano de 2014, foi elaborado o presente Relatório o qual pretende sintetizar o conjunto das atividades desenvolvidas tendentes ao cumprimento dos objetivos definidos para o período anual em questão.

1.      Documentários sobre escritores transmontanos
Conforme o compromisso assumido nas duas últimas reuniões da Assembleia Geral, o realizador Leonel Brito concluiu os trabalhos de realização dos seguintes escritores transmontanos:
- Bento Gonçalves da Cruz;
- João Barroso da Fonte;
- António Lourenço Fontes;
- António Manuel Pires Cabral;
- António Passos Coelho;
- Hirondino da Paixão Fernandes
- António Modesto Navarro;
- Júlia Guarda Ribeiro.  
- Adriano Moreira.
            Para concluir a produção desta primeira série de dez documentários fica apenas em falta o referente a Rentes de Carvalho que se mostrou disponível para o efeito mas que, segundo ele próprio nos informou, se encontrava nos últimos meses do ano transacto, numa situação delicada em temos do seu estado de saúde. Logo que possível, retomaremos a conclusão deste trabalho.
            Convém lembrar, por ser de inteira justiça, que alguns destes trabalhos foram apoiados financeiramente por algumas das câmaras municipais de cujos municípios são oriundos os escritores: Bragança, Vila Real e Montalegre. Igualmente, obtivemos um subsídio monetário da Direção Regional da Cultura do Norte.

2.      Produção e emissão do programa Academia de Letras
Foi dada continuidade à produção e emissão do programa Academia de Letras na Rádio Brigantia; trata-se de um tempo de conversa com os escritores, autores, poetas ou investigadores nossos associados, de reflexão sobre as suas obras, projetos e sobre as suas vivências. Com a duração aproximada de 50 minutos e periodicidade mensal. No ano de 2014, foram os seguintes os autores que nele participaram:
- António Sá Gué
- António Júlio Andrade
- António Fortuna
- António Monteiro
- Alexandre Parafita
- Antero Neto
- Hirondino Fernandes
- António Afonso
- Joaquim Ribeiro Aires
- A. M. Pires Cabral
- Virgínia do Carmo e Casimiro Fernandes (Dia do Livro e do Livreiro)
- Ernesto Rodrigues

3.      Artes e Livros
Organização, em parceria com a Câmara Municipal de Bragança, do evento literário “Artes e Livros”, de 11 a 14 de junho. Durante os quatro dias do evento, foram lançados ou apresentados cerca de uma vintena de livros de autores transmontanos e de outros escritores. Foram também apresentados os documentários de Hirondino Fernandes e Júlia Ribeira.
No âmbito da programação deste evento foi realizada uma sessão de homenagem ao Dr. Hirondino Fernandes, que incluía a referida apresentação do documentário e a intervenção do homenageado e de outros associados, participantes, amigos…

4.      Homenagem: “40 anos de vida literária de Ernesto Rodrigues”
Uma organização conjunta da Academia e da Câmara Municipal de Bragança, realizada no dia 13 de dezembro, na Biblioteca Municipal de Bragança. Do programa, salienta-se:
- a intervenção do professor José Eduardo Franco;
- a mesa redonda com colegas e amigos do homenageado;
- a apresentação do livro Passos Perdidos de Ernesto Rodrigues;
- a apresentação do documentário “Ernesto Rodrigues – 40 anos de vida literária”;
- as exposições: Bibliografia de Ernesto Rodrigues e “Bragança – anos 1970/2014”.

5.      Antologia de Autoras Transmontanas
Efetuou-se uma parte substancial do trabalho da organização da Antologia de Autoras Transmontanas, a cargo das nossas associadas Hercília Agarez e Isabel Alves, um trabalho que reúne 28 escritoras e que virá a lume no decorrer do ano de 2015.

6.       Blog da Academia
A dinamização do blog da Academia, para além das intervenções que vinham sendo efectuadas, foi possível pelas novas participações, nomeadamente, a publicação dos programas de rádio, o que permite a sua audição a todos os interessados, mesmo em regiões ou países que estão fora do alcance das emissões da rádio Brigantia. Por outro lado, têm vindo a ser inseridos no blog textos vários de autores que, para o efeito os disponibilizam.

7.      Arquivo documental do Padre António Lourenço Fontes
Realizou-se no dia 30 de junho, em Vilar de Perdizes, uma reunião, que havia sido solicitada pela Direção da Academia e que contou com a presença do Vice-Presidente da Câmara Municipal de Montalegre, do Padre Lourenço Fontes e do Vice-Presidente da Direção da Academia, a fim de estudar uma solução para o vasto arquivo bibliográfico deste autor barrosão.

8. A Academia, por intermédio dos membros da sua Direção, sempre que solicitada ou por iniciativa própria, marcou presença em vários eventos literários, nomeadamente os que diziam respeito a apresentações de livros dos seus associados.

Em face do exposto, a Direção considera que foram cabalmente atingidos os objetivos definidos no respetivo Plano de Atividades, pelo que deliberou apresentar o presente Relatório, para sua aprovação, à Assembleia Geral a realizar em 28 de março do corrente ano.

Bragança, 26 de Janeiro de 2015


A Direção

Orçamento para o ano de 2015

Orçamento para o ano de 2015

1.      Receitas
Quotas e jóias de inscrição dos associados                                    € 2 000,00
Subsídios                                                                                              € 2 500,00
TOTAL        € 4 500,00

2.      Despesas
Participação na edição da obra do Padre António Vieira         € 1 000,00
Documentários sobre os escritores transmontanos                   € 500,00
Antologia das escritoras transmontanas                                     € 2 000,00 
Deslocações                                                                                        € 700,00
Material informático e de secretaria                                              € 50,00
Correio                                                                                                 € 150,00
Outros                                                                                                  € 100,00
TOTAL     € 4 500,00

Bragança, 25 de Janeiro de 2015

A Direção,



ACTA DA ASSEMBLEIA GERAL DA ACADEMIA DE LETRAS DE TRÁS-OS-MONTES REALIZADA A 1 DE MARÇO DE 2014

ACTA DA ASSEMBLEIA GERAL DA ACADEMIA DE LETRAS DE TRÁS-OS-MONTES REALIZADA A 1 DE MARÇO DE 2014 NO AUDITÓRIO DO CENTRO CULTURAL MUNICIPAL ADRIANO MOREIRA EM BRAGANÇA.


A Assembleia Geral teve início cerca das 10.30 H, pela saudação a todos os presentes do seu Presidente, Ernesto Rodrigues. De seguida, procedeu-se à operacionalização da ordem de trabalhos enviada por email, e, em tempo oportuno, a todos os sócios.--------------------------------
Ponto 1. Leitura da acta da reunião anterior – realizada pela 1ª secretária, Mª da Assunção Anes Morais, a qual, não havendo nada a opor, se deu por aprovada. Seguiu-se o-----------------------
Ponto 2. Aprovação do Relatório de Actividades e do Relatório de Contas do exercício de 2013.
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Ernesto Rodrigues, deu a palavra ao Vice-Presidente da Direcção, António Tiza, que, antes de iniciar o referido ponto, leu uma mensagem do Presidente da Direcção da Academia de Letras, Amadeu Ferreira, ausente, por razões de saúde. Nela, é expresso um agradecimento ao Vice-Presidente da Direcção, ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral e aos restantes elementos da Direcção, pelo trabalho desenvolvido, ao mesmo tempo que apresenta a sua concordância com os documentos que irão ser analisados nesta Assembleia Geral. Pensa estar presente numa próxima oportunidade. De seguida, o Vice-Presidente da Direcção agradeceu a presença de todos os sócios da Academia nesta Assembleia, principalmente aos que tinham vindo de mais longe, como Lisboa, Porto, Vila Real, Moncorvo, Mirandela ou Macedo, não se compreendendo, assim, a ausência dos que residem mais perto, em Bragança, por exemplo. O Presidente da Assembleia Geral interveio, entretanto, para resumir o Relatório de Contas do exercício de 2013, em que, após a apresentação das despesas e das receitas, havia um saldo positivo de cerca de 1.200,00 €. Voltou novamente a intervir o Vice-Presidente da Direcção para apresentar o Relatório de Actividades. Referiu o trabalho notável realizado por  Leonel Brito na realização e produção de 7 vídeos, de um conjunto de 11 programados; as intervenções da Academia de Letras de Trás-os-Montes no Programa da Rádio Brigantia e Rádio Bragançana (RBA), não só nos últimos 3 meses do ano de 2013, mas em outros,  em que participaram os seguintes autores: Ernesto Rodrigues, Hercília Agarez, Amadeu Ferreira, António Tiza, Rogério Rodrigues, Hirondino Fernandes, Fernando Mascarenhas e Fernando de Castro Branco. No que concerne ao blogue da Academia de Letras, entrou numa nova dinâmica, desde que foi assumido pelo Leonel Brito e Pedro Santos. Para terminar este ponto, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral fez uma síntese do mesmo, focando o valioso trabalho existente, memória documental notável nos vídeos realizados, e que Direcção se tinha de debruçar sobre o destino e uso a dar-lhe. De seguida, passámos para o ---------------------------
Ponto 3. Aprovação do Plano de Actividades e do Orçamento para 2014. Neste Ponto, intervieram quer Ernesto Rodrigues, quer António Tiza, pelo que vamos referir-nos aos pontos, conforme apresentados. 1) Orçamento: Valor previsto em quotas/jóias dos sócios: 2.500,00 €, valor considerável favorável, e, de Subsídios: 2.000,00 €, resultante de financiamentos das Câmaras onde serão apresentados os vídeos dos autores daí originários; considera-se que este valor será baixo para a previsão. 2) Plano de Actividades: Continuação do apoio à obra do Padre António Vieira; Continuação da realização dos Documentários; Participação no evento Artes e Livros, que a Câmara Municipal de Bragança costuma organizar por volta do dia 10 de Junho, indo-se contactar a Vereadora do respectivo pelouro para o efeito; Publicação da Antologia de Escritoras Transmontanas (ideia inovadora); Reuniões com as Câmaras para apoio de autores menos conhecidos, a fim de apoiarem a publicação dos seus escritos; Visita a Belém do Pará - Brasil; Continuação do Programa de Rádio (no corrente ano, foram já apresentados, em Janeiro, Sá Gué, e, em Fevereiro, António Júlio Andrade; em Março, será a vez de António Fortuna). Acrescentou-se que a Academia não tinha verbas para o pagamento de todas as despesas, nomeadamente a viagem ao Brasil, tornando-se esta bastante dispendiosa; e, para a Antologia de Escritoras Transmontanas, tinha-se inscrito no orçamento um valor de 1.000,00€. Sobre este ponto seguiram-se intervenções dos seguintes membros: Rogério Rodrigues, informando que a Editora Âncora, de A. Batista Lopes, se encontrava disponível para publicar novas obras, à semelhança da Editora Lema d’Origem, de António Sá Gué. Fernando Mascarenhas solicitou informação da existência, ou não, do compromisso de o autor adquirir um certo número de exemplares por si ou por uma 3ª pessoa/entidade, nomeadamente a Autarquia. Foi informado que a prática da Âncora não era essa. Rogério Rodrigues acrescentou que a Âncora tinha uma distribuidora própria, o que lhe possibilitava uma poupança de cerca de 50% em comparação com outras editoras. Além disso, recorria a um nicho de mercado, nomeadamente na FNAC, Bertrand e outras livrarias locais. Ernesto Rodrigues informou que, por exemplo, tal compromisso não era só das pequenas editoras, já que tinha conhecimento, por exemplo, da Porto Editora, que oferecia algumas chancelas aos autores, e, caso os livros não se vendessem, os mesmos tinham de o adquirir o remanescente. Relativamente à Âncora, não se passava isso, mesmo no campo da poesia, onde as tiragens eram menores, área que o Rogério Rodrigues dirigia, conseguindo apoios locais e regionais para o efeito. José Mário Leite interveio no sentido em que, relativamente aos Documentários sobre os autores oriundos de alguns Municípios, e o apoio por parte destes, considerava que o valor orçamentado ‒ 2.000,00 € ‒ era muito pequeno, já que, no seu parecer, as obras “faraónicas” tinham acabado, encontrando-nos num novo ciclo político, e seria tempo de se preservar a memória do povo através da cultura, comentário corroborado por Fernando Mascarenhas. Rogério Rodrigues interveio para propor que fosse pensada a criação de uma união das Câmaras do distrito, com representação em Bragança e com o Patrocínio da Academia, cujo objetivo seria o apoio na apresentação das obras dos diferentes autores. Ernesto Rodrigues lançou o repto aos autores presentes de Vila Real, nomeadamente, Hercília Agarez, Isabel Alves e António Fortuna, em associação com o Grémio Literário, exemplificando com uma experiência anterior, própria, o lançamento de volume de Raul Rêgo.-----------------------------
Passou-se, depois, ao -----------------------------------------------------------------------------------------
Ponto 4. Proposta de Leonel Brito como sócio honorário. Seguiram-se alguns testemunhos sobre a pessoa e obra de Leonel Brito, e merecida distinção. O Presidente da Assembleia Geral e o Vice-Presidente da Direcção referiram a obra de realização e produção dos Documentários dos Autores Transmontanos, o elevado número de horas de trabalho efectuado e a sua dedicação ao blogue da Academia de Letras, pelo que gostariam de o ter como sócio honorário. Rogério Rodrigues fez uma retrospectiva da vasta obra cinematográfica e de produção de Leonel Brito desde o 25 de abril de 1974, até ao presente, contemplando quase todas as zonas do País, com evidência para Trás-os-Montes, Porto, Madeira, para além da sua referência de amigo, há cerca de 50 anos. Ernesto Rodrigues acrescentou o trabalho de 23 H com Amadeu Ferreira, um importantíssimo documentário sobre a sua vida e obra. Hercília Agarez referiu a dinamização do blogue e a sua eficácia. Ernesto Rodrigues terminou com uma saudação e um agradecimento por estar presente, sendo a proposta aprovada por unanimidade e aclamação. Leonel Brito tomou a palavra, emocionado, falando sobre algum do seu trabalho neste último ano, concretamente a gravação que fez com Amadeu Ferreira e também sobre os pais deste, relatando a vida de Sendim – Miranda, a sua infância, a vida de seminarista, a sua vida profissional; referiu, enfim, que, no documentário dos diferentes autores, o que lhe interessou foi a parte humana do escritor, concretamente os depoimentos sobre a sua vida desde a meninice até ao presente. Histórias de vida que o marcaram. Concorda, pois, que as Câmara Municipais colaborem e ajudem na sua divulgação. Relativamente ao blogue, é um trabalho dos diferentes escritores, solicitando o envio de textos para a respetiva integração no mesmo, nomeadamente, livros, congressos em que participaram, apresentações, entrevistas, etc. Este é um trabalho que fica para sempre. Pode ser impresso, estudado, trabalhado. É um oferecimento de trabalho cívico. Ernesto Rodrigues referenciou o apoio também a autores não nascidos na região, mas aqui ligados pela escrita, como é o caso de Teresa Martins Marques. ---------------------------------------------------------------
Seguiu-se o último ponto, o ----------------------------------------------------------------------------------
Ponto 5. Outros assuntos. Sá Gué interveio, congratulando-se por Leonel Brito estar connosco, pessoa que, sendo sua conterrânea, o ajudou muito, quer como autor, quer como editor. Neste caso, na edição de autores, para uma editora da dimensão da sua, surgem sempre alguns constrangimentos, até porque nem as Autarquias estão a apoiar. Lança a ideia da Criação de um Centro de Estudos Transmontanos, sobre autores e novos autores que têm trabalhos realizados, concretamente de mestrados e doutoramentos, e que mereciam ser publicados. A Academia devia ser como um impulsionador nestas situações. Ernesto Rodrigues referiu que, nesta matéria, existe uma experiência muito interessante no Funchal que é o Centro de Estudos do Atlântico, onde, em vez da edição do exemplar completo, só é impresso 1 primeiro capítulo, resumo, de cerca de 16 páginas, e o restante texto é apresentado em CD, que se anexa, tornando-se assim mais barato e com maior facilidade de acesso ao público em geral. Deu, ainda, o exemplo das Memórias Arqueológico-Históricas… do Abade de Baçal, apresentadas no blogue da Academia, que Leonel Brito sustenta e coordena. Referiu, também, haver online muitas teses de doutoramento e dissertações de mestrados, cujos autores não autorizam a recolha de elementos. A Academia poderia realizar esse trabalho, contribuindo, assim, como uma fonte de receitas, situação a estudar, levando um preço simbólico por cada consulta. É seu parecer que nenhuma editora arriscaria investir em tais trabalhos. Teresa Matyins Marques referiu a existência de textos para diferentes universos, em que as citações seriam recolhidas com download directo, com um público especializado e mais barato para todos. Leonel Brito confirmou a informação de Teresa Marques, dando, como exemplo, um filme que fez com Rogério Rodrigues e se encontra como documento na biblioteca da Câmara de Torre de Moncorvo, e também no blogue “Farrapos de Memória”, que teve quase 1 milhão de visitas, tornando inviável o seu controlo. Referiu-se à biblioteca digital, e à passagem do pergaminho ao papel, até ao digital. Mesmo o CD ‒ considerou ‒ vai desaparecer. Ernesto Rodrigues solicitou a António Tiza que desse a informação sobre o 3º Encontro Livreiro que se realizara no anterior fim-de-semana (sábado) na livraria Rosa D`Ouro, em Bragança, participado por livrarias dos distritos de Vila Real e Bragança, e vários Autores. A Academia também esteve presente, oferecendo a sua colaboração. Após um pequeno resumo de como decorreu, Sá Gué acrescentou que a ideia resultante deste Encontro é fazer circular pelas diferentes livrarias os autores nas suas apresentações, donde resultava que, se, antes, só se viam nas livrarias as grandes editoras, neste momento, as pequenas já têm alguma visibilidade. Teresa Martins Marques acrescentou ser também necessário que as apresentações de obras de autores se concretizem em novas formas, com alguma criatividade, dando o exemplo de uma entrevista ao próprio autor.-----------
Questionando os presentes  sobre se alguém desejaria falar, o que não aconteceu, o Presidente da Mesa da Assembleia deu por finda a Assembleia Geral cerca das 13 H.--------------------------
Da mesma, elaborou-se a presente Acta que vai ser datada e assinada pelos elementos da Assembleia Geral.

Bragança, 1 de Março de 2014.

Ernesto Rodrigues
Maria da Assunção Anes Morais
Idalina Brito


30 março 2015

Testemunho de Ernesto Rodrigues

Testemunho de Ernesto Rodrigues
Docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, recém-eleito diretor do CLEPUL, Ernesto Rodrigues é também ensaísta, jornalista, ficcionista, poeta, tradutor, além de membro ativo da Academia de Letras de Trás-os-Montes, que ajudou a fundar. Com mais de 80 títulos publicados, com toda justiça, acaba de ser homenageado em Bragança pelos seus 40 anos de vida literária.

Neste testemunho, recorda seu encontro com a obra e a figura Jorge de Sena. O texto de sua autoria a que alude encontra-se em “95. A morte do Papa“.



Fonte: http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/vida/novo-testemunho-de-ernesto-rodrigues/

Voto de Pesar pelo falecimento de Amadeu Ferreira




Clique na imagem para ler o documento.

27 março 2015

Panegírico à Vida em Belheç/Velhice de Fracisco Niebro (Amadeu Ferreira)


Norberto Veiga[1]

“A velhice não afasta necessariamente os homens da vida ativa porque há
uma atividade muito própria dos velhos: muitos continuam a servir
a pátria com a sua prudência e autoridade; outros entregam-se ao estudo
das letras e das ciências; alguns, ao cultivo das terras”.
[Cícero, De Senectute, sublinhado meu][2]


Manuel da Fonseca num dos contos da obra O fogo e as cinzas, “O Largo”, escreveu “o Largo era o centro do mundo”. Parece-me ser essa a intenção de Fracisco Niebro, no introito da obra, ao colocar o protagonista do relato, “um velho”, enfatizo a utilização do determinante indefinido, sentado na ombreira da sua porta, isto é, na rua, que dá para um largo [8] da qual faz o centro do “seu” mundo. O velho assume na primeira pessoa o relato da vida, com laivos autobiográficos do autor. Embora o mundo, para ele, seja tão só a sua aldeia, “Nos meus oitenta anos quase não saí daqui. O mundo é grande. (…) Por isso, o centro só pode ficar onde ponho a ponta da minha bengala” [30]. Esta ideia é, de novo, reforçada na página 52, onde se lê: “Passo os dias sentado no poial de pedra da rua: quem passa olha para mim”. Esta atitude reflexiva do velho, sobre as pessoas da sua aldeia, coloca o leitor, por sinédoque, perante o espetáculo do mundo e leva-o à autognose. A tarefa é árdua mas ele não desiste de recordar/escrever para nos questionar: “Desde que estou aqui sentado na rua já passaram mais de cem pessoas” [98].  
Qual é, então, o propósito do velho/da obra? As intenções são várias. Em primeiro lugar, reiteramos a questionação do leitor para o levar à reflexão sobre a vida e a melhor forma de a “merecer”. Por isso, o autor nos faculta uma espécie de manual, isto é, uma carta de intenções que, segundo creio, constituiu a sua filosofia/ideias de vida, fixada na página 38, sempre atual e de muita utilidade para o cidadão hodierno.
A reflexão do velho, escrita com grandes dificuldades físicas, é feita em flashback recordando as memórias do passado para chegar à desconfortável conclusão: “Há coisas, por exemplo cantigas, em que já não caibo, mundos que parecem já nada querer ter a ver comigo” [8]. Estas palavras trazem à memória do leitor a réplica de Beresford a Principal Sousa, da obra Felizmente Há Luar! de Luís de Sttau Monteiro: “O velho está sempre a ceder perante o novo e o novo sempre a destruir o velho”[3]. Parece-me que é também para isto que a personagem/narrador velho escreve, ou seja, para ser memória futura do povo e das tradições que enformaram a sua vida e que persistem em continuar, apesar da veracidade das palavras de Beresford.
Por conseguinte, o velho, ciente do inexorável curso de Apolo, decide perpetuar a sua memória através da escrita, como o autor afirma: “Depois, veio-me a vontade de escrever”, que lemos na segunda página da obra [8]. Esta vontade, em meu juízo, traduz-se em dois propósitos: o primeiro, em não deixar morrer as tradições e a língua de um povo, pelas quais o autor se bateu, de forma abnegada, ao logo da sua vida; o segundo cumpre-se no legítimo e almejado desejo do homem, Amadeu Ferreira, em nos legar uma obra perene que jamais possa ser ignorada. Esta postura lembra o tópico da imortalidade que se adquire pelo valor da obra literária, imortalizado na ode XXX, do livro terceiro de Horácio[4].
O ato de escrita aprece-nos, nesta obra, associado ao alimento que prende o escritor à vida: “escrever é como um alimento que me vai mantendo vivo, tal como a bengala me permite manter-me de pé” [56]. Logo, a escrita, aliada à sabedoria da palavra, que é equiparada a diamante que brilha [20], remete, em minha opinião, para a possibilidade de a literatura transformar o mundo real. Pois, como assevera Vítor Aguiar e Silva, na obra Teoria da Literatura: “O escritor, ao emitir o seu texto não só transfigura o real nomeado ou aludido, mas reinventa e instaura o próprio real, o real absoluto, com a urdidura encantatória do seu discurso[5]”. Nesta postura do escritor fulge a figura de Prometeu que, latu sensu, simboliza a capacidade de a comunicação literária contribuir para transformar o real, o real antropológico e o real histórico-social. Estas palavras do autor de Velhice corroboram estes preceitos: “Gostam de sentir que as histórias têm uma vida diferente, como os sonhos. As histórias ensinam a sonhar e falam de um mundo tão diferente que fazem nascer a vontade de mudar aquele em que vivemos” [108]. No entanto, esta força performativa da palavra pode ser ineficaz se o leitor se recusar a aceitá-la, como se depreende das palavras do autor: “Pensamos que já sabemos tanto que nunca somos capazes de encontrar um espaço para aprender” [64].
Na base destas preocupações patenteia-se a ideia angustiante do esquecimento que para o escritor se assemelha à morte: “Estar só não é morrer, é não nascer. Uma pessoa morre quando já ninguém olha para ela” [32][6]. Creio não restarem dúvidas aos leitores mais assíduos da obra de Amadeu Ferreira que a sua luta, ou melhor a sua escrita, foi sempre esta pugna hercúlea contra o esquecimento, que, não raras vezes, dói mais que a própria morte. É por esta ordem de razões, que se aceita que toda a vasta produção literária de Amadeu Ferreira, e esta em particular, foi animada pelo anseio de se “libertar da lei morte”.
Outro grande filão do livro cumpre-se no título desta crítica, isto é, o elogio da vida, sempre associado à ousadia e à vontade de querer vencer e antecipar o futuro, pois: “Apenas é nosso o que fazemos porque o queremos” [50]. Este encómio à vida está patente nas palavras do autor: “Quando olho para trás e vejo o que ficou, sorrio. Houvesse quem fora capaz de sorrir e olhar para a frente… Nada há tão difícil como isso. Olhar para diante mete medo. E com medo ninguém sorri com vontade. E quando ninguém sorri, as coisas e a vida ficam tão pesadas que custam a suportar” [44, sublinhado meu]. Mas por mais espinhosa que seja a nossa missão, em vez de desistir devemos recomeçar, uma vez que: “Quando se perde a vontade de começar, começamos a morrer” [46]. E Amadeu Ferreira foi um exemplo acabado desse recomeçar, porque a energia e a força telúrica, imortalizada por Torga, que sorvia das arribas do Douro, o impelia a “nunca contentar-se de contente”.
Todavia, uma certa desilusão atormenta o escritor, porque ninguém pensa nada, “Para pensar, há que parar. (…) E como ninguém pensa, nada muda” [28]. Registe-se que o sofrimento está associado à lucidez e à inquietação das pessoas, pois “quem mais sabe mais sofre.” (cf. Pessoa “Se estou só, quero não estar”). O ato de cogitar aumenta o conhecimento e, por conseguinte, o sofrimento: “Até os velhos, porque pensam mais, morrem mais depressa” [28]. O velho acaba por sucumbir ao afirmar: “Por vezes sabe muito bem uma pessoa não se lembrar de nada e ficar encandeada com coisas tão pequeninas como florzinhas de telhado” [126].
Ouso, pois, afirmar, sem ambages e dissídios, que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira se “libertou da lei da morte” e continuará perenemente, como lembra Horácio, a viver na vastíssima e riquíssima obra que nos legou. Pois ele, mais que outrem, teve a coragem de “não morrer”, como se infere das suas palavras: “Apenas há um segredo para uma pessoa não morrer: agarrar-se a uma ideia com tanta força que não mais se desprenda” [34]. Creio não andar longe da verdade ao afirmar que “a ideia” a que Amadeu Ferreira se agarrou foi a difusão e a ratificação da Língua Mirandesa.
Termino apelando à leitura da obra deste ilustre Transmontano/Mirandês na qual são audíveis os ecos de uma luta contínua contra a resignação, o determinismo e o fatalismo, instigando-nos a assumir uma atitude de trabalho abnegado, norteado pelos valores e pela ética, alicerces de qualquer sociedade.

Bragança, 25 de março de 2015





[1] Doutor em Literatura Portuguesa, Universidade de Salamanca.
[2] O diálogo Cato Maior ou De Senectute de Cícero é, segundo Gérard Genette, Palimpsestes, o hipertexto da Belheç/Velhice de Fracisco Niebro.
[3] MONTEIRO, Luís de Sttau, Felizmente Há Luar!, Areal Editores, 1999, pág. 54.
[4] O poeta latino Horácio, nesta ode, fala da importância da obra literária que resistirá, como nenhuma outra, às intempéries naturais e, consecutivamente, ao esquecimento.
[5] AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel, Teoria da Literatura, Livraria Almedina, Coimbra, 1988, 8.ª Ed.ª, p. 334.
[6] Leia-se o poema de Fernando Pessoa, que aqui reproduzo, por me parecer que encerra a mesma filosofia de vida que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira defende nesta e em todas as suas obras: “A morte é a curva da estrada, / Morrer é só não ser visto. / Se escuto, eu te oiço a passada / Existir como eu existo. // A terra é feita de céu. / A mentira não tem ninho. / Nunca ninguém se perdeu. / Tudo é verdade e caminho.” (Sublinhado meu) PESSOA, Fernando, Poesias, Ática, Lisboa, 1942 (15.ª ed.ª 1995), p. 142.