15 abril 2019

MOGADOURO

Apresentação da coletânea GENTES E LUGARES.


Decorreu no passado dia 30 de março, em Mogadouro, na Biblioteca Municipal Trindade Coelho, a apresentação da obra Gentes e Lugares – Contos e Contas de Autores Transmontanos, editada pela Academia de Letras de Trás-os-Montes. Este evento foi resultado uma feliz parceria com o município de Mogadouro, a quem agradecemos publicamente, que disponibilizou todos os meios necessários para o sucesso da iniciativa, integrada no programa “Amendoeiras em Flor”.
A sessão de apresentação foi presidida pela Sr.ª Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Mogadouro, Virgínia Gomes Vieira, seguindo-se uma breve referência à atividade da Academia pela Presidente da Academia, Assunção Anes Morais e a apresentação da obra por António Bárbolo Alves, participante nessa Coletânea de contos e membro dessa Academia. A sessão teve, também, a presença de Abílio Topa, músico que, para além da sua intervenção sobre a música tradicional, brindou os presentes com algumas canções desse reportório popular.
Referindo-se a esta obra, António Bárbolo Alves, servindo-se do subtítulo, “contas e contos”, fez uma breve apresentação estatística, mostrando a extensão da coletânea e também algumas palavras ou formas que indiciam quer alguns dos temas presentes, nestes contos, quer a centralidade de alguns deles, na maioria das narrativas.
Seguiu-se, a partir do título, uma reflexão sobre os “lugares e espaços míticos” que, na opinião do apresentador, povoam o imaginário das personagens, mas também de muitos narradores. António Bárbolo afirmou: «Gentes e lugares” fala-nos desses espaços que, sendo reais, adquirem, pela magia da transformação literária, a categoria de mitos. Por isso, não falamos aqui de Miranda nem Mogadouro, topónimos e lugares geográficos, falamos de um espaço que, tal como para o Amílcar, herói do conto “A Feira dos Gorazes”, exerce o fascínio apenas acessível e reservado a quem sacrifica às musas de Homero, pai da literatura ocidental, e não às de Heródoto, criador da História e da Geografia.”»

Por fim, falando do seu conto, “Cantigas de la segada”, escrito em mirandês, referiu que o mesmo teve como objetivo fazer uma dupla homenagem: aos trabalhadores, gentes e heróis incógnitos que, no seu anonimato, ajudaram a construir a história visível, ainda que o seu nome não apareça nem nos livros nem nos jornais, e também um tributo a essas personagens, muitas vezes aleijados – e sobretudo cegos – que, de feira em feira, de romaria em romaria, de aldeia em aldeia, ou mesmo de porta, levavam, com a sua voz, nos chamados folhetos de cordel, os seus romances e as “notícias” do mundo.
Nesta matéria, referiu-se concretamente a algumas destas personagens, nomeadamente a Baltazar Dias, o cego da ilha da Madeira, e também ao “manquinho da Açoreira”, de Torre de Moncorvo, como duas das vozes, cuja muito tempo ouvidas e cuja lembrança se conservou, até aos nossos dias, nas gentes desta região.
Uma vez que o referido conto termina com um rimance à moda dos cegos, musicado por Abílio Topa, foi a vez de este músico cantar essa melodia, e também algumas outras, como “O Canedo” ou as “Calles de San Francisco”, mostrando como esta região beneficiou, secularmente, da sua situação fronteiriça, e também dessas vozes que, ao longo do tempo, enriqueceram a cultura da Terra de Miranda.
Após o momento musical, a sessão terminou com um coffee break, promovendo um agradável momento de convívio entre os presentes.