01 dezembro 2017



ZIMBRO, O PINHEIRO DO NATAL

O zimbro não é um arbusto qualquer
Nem qualquer arbusto que se plantasse
Nem na horta nem no quintal
Por crescer abundante, entre fragas,
Como qualquer pinheiral
Nas redondezas das arribas do Douro.


Duro, alto e esguio
O toro do zimbreiro
Não vergava e não cedia
À primeira machadada.
Menos feliz era a passarada
E mais sortuda a rapaziada
Que com as suas bagas
Melros e tordos caçava.

Mas, por vezes, acontecia
Que na véspera de Natal
Descia do seu fragoso pedestal
Vinha, tornava-se festivo
E à fogueira também se aquecia
Enquanto aspirava o bom cheiro do que ardia
– Alecrim, rosmaninho e alfazema –,
Com a família. Tornava-se naquela altura o pinheiro do Natal!
Eram Natais distantes
Eram Reis Magos pobres,
Que, todavia, traziam para os infantes
Presentes comestíveis e mais aconchegantes
Do que mirra, incenso e ouro.

O zimbro não é um arbusto qualquer...
Agora, já não cresce abundante, entre fragas,
Já ninguém lhe leva lanternas de azeite
Para lhe iluminar os ramos e anunciar as festas luminosas do Menino,
Agora, já não fica com os pregos para lhe pendurarem luz no próximo ano
E perdeu a vez na hierarquia natalícia...
Mas, talvez, tenha ganho esperança no Futuro
Enquanto não vier fogo
Que lhe chamusque o toucado altaneiro
Ou lhe tragam os humanos outras e mais desavenças
E o consumam por inteiro,
Ao pinheiro do Natal.

Isabel Mateus,

In «As árvores com que crescemos – Poemas da natureza», 2017

3 comentários:

Isabel Mateus disse...

Boa tarde,

Antes de mais quero felicitá-los por esta interessante iniciativa. Venho ainda agradecer a divulgação do meu poema neste vosso espaço.

Ficarei atenta a futuras publicações dos demais colegas das letras.

Saudações natalícias,
Isabel Mateus

Odete Ferreira disse...

Bela, sentida, saudosa e mensageira construção poética.
Parabéns, Isabel Mateus!
Bjinho

Cristina Torrão disse...

E eu também gostei muito de ler aqui o teu poema, Isabel.
Beijinhos.