12 fevereiro 2016

O CARNAVAL DA MINHA INFÂNCIA - (memórias) - por João de Deus Rodrigues


Foi antanho, é passado,

Mas a memória devolve tudo:

Uma mulher, a roca, o linho fiado,

Mas não se fiavam as barbas ao Entrudo!

 

Mão ágil, fósforo aceso, a estopa queimada.

Uma pedra que sai da mão,

E a cabeça rachada, ao carpinteiro João.

 

Uma mulher, as estopas a arder,

A ousadia, o drama, a agressão.

                                

Porque os homens da aldeia faziam tudo,

Para que não se fiassem as barbas ao Entrudo,

Para manter viva a tradição.

 

Enquanto na cozinha, à luz da candeia,

Quatro gerações junto à lareira,

Festejavam o carnaval, sem máscaras,

Essas coisas do demónio tentador.

Porque só eram permitidas brincadeiras

De deitar farinha na cabeça,

E contar “estórias”, não muito brejeiras… 

 

E toda aquela boa gente,

De cara descoberta, alegre e contente,

Passava a noite de carnaval,

Com uma estridente gargalhada,

Até ao clarear da madrugada...

 

Era assim o Carnaval na minha infância,

Em casa dos meus avós maternos,

A tão longa distância…

Onde não eram conhecidos corsos carnavalescos,

Nem desfiles de samba, com foliões pitorescos…

 

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