43 capas de livros de autores transmontanos.Foto de arquivo. |
Indiferentes à crise os
Transmontanos teimam em demonstrar que a cultura sobrevive e cada vez mais se
afirma como luz da humanidade. De Chaves a Bragança, de Mirandela à Régua, de
Vilar de Perdizes a Sabrosa tudo mexe. Os ciclos viciosos revelam-se mais em
alturas destas. O poder político confronta-se com heranças falidas. A cultura é
a primeira vítima. Os criativos multiplicam-se e essa sementeira revela-se em
obras de arte: livros, pintura, escultura. Ao vazio central falta o que se
procura no poder local. Mas a crise toca a todos. E até aquilo que durante anos
foi a voz do povo anónimo, é hoje o espelho da magreza social. Refiro-me aos
jornais regionais que prestam altíssimos serviços e que custam os olhos da cara
a quem os gere e produz.
Trás-os-Montes e Alto Douro, antes
e depois da revolução dos cravos, teve órgãos desses às dúzias.
Faziam falta aos emigrantes, aos
industriais, aos empresários da modernidade, às instituições públicas, ao
cidadão que gosta de andar bem informado e a tempo e horas. De repente todas
essas classes ficam órfãs. Quem criou e geriu essas vozes públicas não resistiu
às tempestades. Foram muitas, diversificadas e terríveis. O país sofreu um
abalo sísmico. As regiões empobreceram. E nem sequer podem manifestar-se, de
alegria ou de tristeza, por essas transformações que repercutiam o pensamento
que fecundava a alma das gentes e entoava hinos ao criador.
Chaves tem hoje apenas um jornal.
Bragança tem dois, tantos como Vila Real. Mirandela dois. Régua e Vila Pouca
cada um seu. Boticas 1, Valpaços dois e Montalegre três. Só falo dos que
conheço. E cito-os para os elogiar pela coragem dos seus responsáveis a quem
todos devemos bater palmas. Já que sustentar um jornal regional em zonas do
interior, custa tanto como mandar um foguetão ao espaço. Se esqueço algum é por
ignorância.
Uma classe que muito sente essa
falta é dos criativos. Eles e os órgãos de informação são aliados naturais. Os
autores dos grandes centros urbanos não sentem essa falta. Têm as televisões,
as rádios e os jornais que se atropelam. Cada vez que um intelectualóide dá um
espirro, inicia o seu ciclo ascensional de efemeridade. Logo vem a turba multa
mediática apregoá-la como obra de arte. Fabricam-se assim, os compadres, as
comadres, as uniões de facto do oportunismo saloio que tão pernicioso tem sido
ao país real.
Afloro este tema para exaltar os
jornais que vão resistindo e que, apesar de toda a sua solidariedade, nem
sempre podem garantir o espaço (ou tempo de antena) que os autores merecem.
Esta é a síntese dos chamados ciclos viciosos que a crise nacional implementou,
graças aos políticos que temos. Atento ao que se vai editando, sempre me
alegrei com o número e qualidade daquilo que vai surgindo através dos criativos
que não nascem em Lisboa, Porto e arredores. De quanto me chega procuro dar eco
para que se saiba quem e que progresso vamos tendo. Ficam os nomes e títulos de
alguns desses exemplos:
Alexandre Parafita
surpreendeu-nos, desta vez com um ensaio biográfico a que chamou: A Máscara do
Demo. O ressurgir de um bispo português que se chamou Frei João da Cruz, da
Ordem dos Carmelitas Descalços que «governou com mãos de ferro, em meados do
século XVIII, as dioceses do Rio de Janeiro e de Miranda do Douro».Obra
admirável, enriquecedora e a não perder.
Ernesto Rodrigues (Torre de D.
Chama) igualmente docente universitário e presidente da Academia de Letras de
Trás-os-Montes. Um romance sobre a poderosa Casa de Bragança que teve os seus
fortes e longínquos alicerces em todo o Norte do País até Vila Viçosa. Oportuna
reconstrução histórica destes 600 anos de existência transcendental. A este
livro de leitura obrigatória aumente-se A Terra de duas Línguas II Antologia de
Autores Transmontanos. Ernesto Rodrigues e Amadeu Ferreira, duas personalidades
académicas de referência nacional, que puseram a Academia de Letras de
Trás-os-Montes em linha de alta velocidade. São 55 autores que em Português e
em Mirandês que ficam registados a chave de ouro.
António Jorge Nunes, autarca
Brigantino reuniu em 384 páginas a chancela da sua faina concelhia. O melhor
testemunho de Gestão do Município de Bragança entre 1998 e 2013, mostrando como
se empreende e executa, desafiando o futuro. Honra e glória a quem colocou
Bragança no Mapa.
Jorge Lage reapareceu com Memórias
da Maria Castanha, última investigação sobre o tema que o transformou no mais
esclarecido autor sobre a castanha. O vocabulário, a variedade, as expressões,
os provérbios, as receitas tradicionais e outros saberes etnográficos acerca do
castanheiro passam por aqui. Este tema é sinónimo de riqueza Transmontana e
este Autor tem vindo a tratar, com olhos de quem sabe e quer promover aqueles
que desprezam uma riqueza à vista dos olhos.
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